Em 1975, no coração da cidade do Rio de Janeiro, nascia a Olympikus, criada pelo Grupo Vulcabras — uma empresa até então mais conhecida pela produção de calçados populares e botas de trabalho. A ideia inicial era ousada: criar uma marca de calçados esportivos 100% brasileira que pudesse competir com os produtos importados que começavam a ganhar força no país. Mas a trajetória da Olympikus seria tudo, menos linear.
Durante os anos 80 e 90, a Olympikus enfrentou um dilema de imagem. Seus tênis eram vistos como resistentes, porém pouco atraentes e inferiores em tecnologia frente aos gigantes internacionais que dominavam o desejo dos consumidores urbanos. Para muitos corredores e jovens atletas, usar Olympikus era sinônimo de “economia” — não de performance ou status. A marca se tornou popular em regiões periféricas e entre o público de menor poder aquisitivo, mas carregava o estigma de ser um “tênis feio” para quem podia escolher.
O grande momento de desafio surgiu no início dos anos 2000, quando ficou claro que, se não houvesse uma reinvenção estratégica, a Olympikus poderia perder ainda mais espaço com a globalização do mercado esportivo brasileiro. Em vez de tentar imitar as marcas internacionais, a Olympikus optou por um caminho próprio — ousado e incrivelmente alinhado à sua raiz popular.
A verdadeira guinada veio a partir de 2007, quando a empresa reformulou seu posicionamento de marca: deixou de tentar ser “o Nike brasileiro” e assumiu com orgulho seu papel como marca democrática. A estratégia era simples e poderosa: em vez de correr atrás de atletas de elite, a Olympikus decidiu abraçar o corridômetro brasileiro — milhões de amadores, iniciantes e corredores comuns que sonhavam em participar de provas, melhorar o tempo pessoal e fazer da corrida um estilo de vida acessível. O investimento foi pesado em patrocínios de corridas de rua, apoio a projetos sociais e desenvolvimento de linhas de tênis cada vez mais leves, confortáveis e com preços competitivos.
O modelo de gestão da Olympikus reflete essa virada de identidade: altamente focado no consumidor real, com times internos voltados para o entendimento do comportamento popular e não apenas de tendências internacionais. A empresa desenvolveu uma capacidade invejável de lançar produtos rapidamente, adaptando designs e tecnologias com agilidade e sempre com atenção ao custo-benefício. Em vez de apostar em supercelebridades globais, a marca investiu em corredores amadores, histórias reais e campanhas de orgulho popular.
Hoje, a estrutura societária da Olympikus está integrada ao grupo Vulcabras Azaleia, uma companhia de capital aberto que também controla marcas como Under Armour (licenciada no Brasil) e Mizuno. A família Grendene Bartelle, tradicional no setor de calçados, continua como sócia controladora, mantendo o perfil de empresa familiar profissionalizada, com forte disciplina de execução, cultura de resultados e governança sólida listada no Novo Mercado da B3.
Culturalmente, a Olympikus abraça valores de inclusão, esforço e otimismo. Seus slogans reforçam a mensagem de que correr é para todos, não apenas para os melhores. Esse espírito se reflete na operação: produtos acessíveis, campanhas humanas e parcerias que ampliam o acesso ao esporte.
Atualmente, a Olympikus é líder absoluta no segmento de tênis de corrida no Brasil em volume, e construiu um portfólio robusto de produtos reconhecidos pela durabilidade, conforto e boa relação custo-benefício. Segue investindo fortemente em tecnologia de materiais, com inovações como o solado “Eleva” e o tecido “Oxitec”, que elevam a experiência dos corredores comuns a patamares antes restritos aos produtos importados. Sua estratégia continua a ser clara: democratizar o esporte, sem perder a identidade brasileira que foi a chave para sua ressurreição no mercado.
A história da Olympikus é um lembrete poderoso de que nem sempre vencer significa ser o mais glamouroso ou o mais tecnológico. Às vezes, vencer é entender quem você realmente é, abraçar sua essência e servir com excelência um público muitas vezes ignorado pelos gigantes.
A trajetória da Olympikus é mais do que uma história de reposicionamento de marca — é uma aula prática sobre autenticidade estratégica e foco no consumidor real. Em meio a um mercado saturado de marcas globais, a Olympikus provou que existe um espaço enorme para quem enxerga a realidade como ela é e entrega produtos que fazem sentido na vida das pessoas. A partir dessa jornada de superação e inteligência de mercado, extraímos lições valiosas que inspiram qualquer empresa ou profissional que busque relevância de forma genuína.