Em muitas organizações, a busca por melhorias nos processos se tornou uma prática superficial, limitada a ajustes cosméticos que garantem apenas o funcionamento do estado atual (AS IS). Embora os discursos sejam ambiciosos, as ações carecem de profundidade e comprometimento para gerar mudanças significativas e sustentáveis. O resultado é um paradoxo: processos que aparentam ser mais eficientes, mas que mantêm falhas estruturais, especialmente no que diz respeito à variabilidade.
A Confortável Zona do AS IS
Por que tantas organizações se acomodam no AS IS? Porque é mais fácil. Ajustar o que já existe exige menos esforço do que repensar completamente um processo. É mais confortável investir em ferramentas para monitorar métricas e obter pequenos ganhos incrementais do que desafiar o status quo com mudanças profundas e disruptivas. Essa abordagem, entretanto, leva a uma perigosa falsa sensação de progresso: indicadores mostram leves melhorias, mas as raízes dos problemas permanecem intocadas. E, quando surgem novos desafios, os processos “melhorados” frequentemente não são resilientes o suficiente para lidar com eles.
A Superficialidade nos Planos de Ação
Diversos estudos mostram que planos de ação superficiais, que não tratam as causas-raiz dos problemas, são ineficazes e levam à reincidência de não conformidades. Entre os sintomas mais comuns estão:
- Foco em Treinamentos Genéricos: Soluções que priorizam capacitações sem endereçar os fatores sistêmicos ou estruturais.
- Ações Genéricas e Não Específicas: Sugestões vagas, como “melhorar a comunicação”, sem detalhamento prático.
- Falta de Conexão com a Análise de Causa-Raiz: Ausência de ferramentas robustas, como os 5 Porquês ou o Diagrama de Ishikawa.
- Ausência de um Desenho TO BE: Planos que corrigem problemas momentâneos, sem uma visão clara do estado desejado.
- Métricas Mal Definidas: Indicadores genéricos que não permitem mensuração real do impacto.
- Soluções Pontuais e Não Sistêmicas: Ações isoladas que não consideram o impacto no sistema como um todo.
A Necessidade de Um TO BE Robusto
Desenhar um TO BE robusto não é apenas imaginar um estado ideal, mas planejar de forma concreta como alcançar um processo resiliente, consistente e sustentável. Esse redesenho exige:
- Tratar a Variabilidade na Fonte: Identificar e eliminar inconsistências causadas por insumos, processos ou comportamento humano.
- Incorporar Redundância Inteligente: Preparar os processos para lidar com imprevistos sem comprometer a qualidade.
- Focar no Cliente Final: Garantir que cada mudança agregue valor ao cliente, alinhada às expectativas de qualidade e eficiência.
O Custo da Superficialidade: Projetos de Alto Esforço e Baixo Impacto Transformador
Em um cenário corporativo cada vez mais competitivo, é comum ver organizações investindo tempo e recursos em projetos que prometem melhorar processos, reduzir custos ou aumentar eficiência. No entanto, muitos desses esforços acabam sendo superficiais, consumindo esforços significativos sem gerar impacto transformador. Esses projetos acabam caindo na armadilha de atender métricas de curto prazo, enquanto problemas estruturais permanecem intocados.
O Alto Custo de Projetos Superficiais
Projetos com alto esforço e baixo impacto transformador podem parecer bem-sucedidos em um primeiro momento. Indicadores mostram melhorias pontuais, e há uma sensação de progresso entre as equipes. No entanto, esses resultados raramente são sustentáveis. O custo oculto dessa abordagem é significativo:
- Consumo de Recursos Sem Retorno Real
- Desgaste de Equipes
- Perda de Credibilidade Organizacional
- Oportunidade Perdida para Mudança Real
Por Que Esses Projetos Falham?
- Foco no Sintoma, Não na Causa-Raiz
- Métricas de Sucesso Limitadas
- Planejamento Deficiente
A Armadilha do “Fazer Algo”
Muitas organizações caem na armadilha de “fazer algo” para mostrar progresso. Essa mentalidade resulta em iniciativas de curto prazo que consomem recursos, mas que carecem de impacto estratégico. Projetos de treinamento genéricos, iniciativas de automação não planejadas ou tentativas de “cortar custos” sem diagnóstico adequado são exemplos comuns.
Um Exemplo Prático:
- Projeto Superficial: Um hospital investe em treinamento para reduzir erros na administração de medicamentos, mas não aborda a variabilidade nos sistemas de prescrição e registro. Apesar do esforço, os erros continuam a ocorrer, pois a causa-raiz — a interface confusa do software de gestão — não foi tratada.
- Impacto Real Transformador: Uma abordagem robusta incluiria a revisão do sistema, simplificação da interface e a integração de alertas automatizados para minimizar falhas humanas.
Como Evitar Projetos Superficiais?
- Diagnóstico Apropriado
- Desenho do TO BE
- Foco no Impacto Sistêmico
- Métricas de Sucesso Relevantes
Conclusão
Projetos de alto esforço e baixo impacto transformador não apenas desperdiçam recursos, mas também comprometem o potencial de mudança real dentro das organizações. A busca por resultados deve ir além do simbólico; é preciso coragem para repensar processos, investir em diagnósticos aprofundados e implementar mudanças que realmente alterem a dinâmica do sistema. Afinal, a transformação não é sobre fazer mais, mas sobre fazer melhor.