Costumo dizer que “nenhum projeto Lean Seis Sigma fracassou por causa de um erro no cálculo do p-valor”. Isso, porém, não significa que a análise de dados deva ser tratada com descuido — muito pelo contrário. Rigor técnico e consistência metodológica são pilares inegociáveis. Ainda assim, sabemos que os maiores obstáculos raramente são estatísticos. Questões políticas, resistência à mudança e falhas de gestão costumam ter um peso muito maior no sucesso (ou fracasso) de uma iniciativa. Da mesma forma, por mais bem estruturado que seja, um plano de comunicação isolado não é suficiente para sustentar um projeto de melhoria.
Ao longo dos anos, acompanhando centenas de projetos, percebi que os times mais eficazes eram aqueles que conseguiam dialogar com as áreas envolvidas, interpretar os dados à luz da realidade operacional e, principalmente, envolver os tomadores de decisão desde o início. Um gráfico estatisticamente perfeito, mas que não ressoa com os desafios reais do chão de fábrica ou da operação, será ignorado. Por outro lado, um plano de comunicação com storytelling encantador, mas sem lastro técnico, pode até gerar engajamento temporário, mas não sustentará resultados.
O verdadeiro diferencial está na capacidade de orquestrar múltiplas competências: escuta ativa, pensamento crítico, domínio técnico, sensibilidade política e habilidade de negociação. O Black Belt ou Green Belt de hoje precisa ser tão fluente em estatística quanto em cultura organizacional. Precisa saber construir gráficos de controle e, ao mesmo tempo, entender o jogo de forças que molda as decisões na organização.
Ignorar a técnica é negligência. Ignorar a política é ingenuidade. E apostar apenas na comunicação é marketing. Projetos robustos demandam mais: demandam coragem para fazer perguntas incômodas, disciplina para seguir o método mesmo quando o caminho parece mais rápido por fora dele, e humildade para aprender com o processo, com os dados e com as pessoas.
A fórmula do sucesso não está em fórmulas matemáticas — mas também não acontece sem elas. Ela nasce da junção entre competência técnica, clareza estratégica e inteligência relacional. E é exatamente aí que Lean Seis Sigma mostra seu poder transformador: não como uma ferramenta estatística, mas como uma abordagem de melhoria contínua centrada em resultados sustentáveis e mudanças reais.