O fenômeno do workslop, descrito recentemente pela Harvard Business Review, pode ser interpretado sob a ótica Lean como o primeiro novo desperdício da Era da IA. No Sistema Toyota de Produção, os sete desperdícios clássicos: superprodução, espera, transporte, excesso de processamento, inventário, movimento e defeitos foram posteriormente expandidos por estudiosos para incluir o desperdício de talentos humanos. Agora, com a IA generativa, surge um oitavo ou mesmo nono tipo: o conteúdo produzido sem valor real, que polui o fluxo de trabalho e gera retrabalho.
Assim como na superprodução, em que se fabrica mais do que o cliente precisa, o workslop representa uma forma de gerar informação além da demanda, com baixa qualidade e sem valor agregado. O colaborador que deveria ganhar tempo passa a gastar horas interpretando, ajustando ou reescrevendo o material. Essa dinâmica se assemelha ao desperdício de defeitos, pois o erro não é físico, mas intelectual: trata-se de uma falha de qualidade da informação entregue. O custo se traduz em retrabalho, aumento do lead time e perda de foco no que realmente importa.
Do ponto de vista Lean, a geração de workslop quebra o princípio central de entregar valor ao cliente. A informação é um fluxo, e quando este é contaminado por outputs artificiais e inconsistentes, o processo se torna ineficiente. O desperdício não se limita a tempo e dinheiro, mas também à erosão da confiança, tanto no colaborador que produz esse material quanto na própria tecnologia que deveria apoiar. Ou seja, há um impacto direto na credibilidade e na capacidade de colaboração entre as pessoas.
Para combater esse novo desperdício, é necessário aplicar o pensamento Lean Digital. Isso significa criar mecanismos de padronização no uso da IA, revisar outputs como parte do ciclo de qualidade, e principalmente treinar equipes para usarem a tecnologia de forma crítica e intencional. A IA não deve ser vista como substituta, mas como extensão das competências humanas. A analogia com o jidoka é válida: a máquina (IA) pode produzir, mas precisa ser supervisionada, e o processo deve parar quando há sinais de “defeito informacional”.
Portanto, o workslop pode ser considerado o primeiro desperdício Lean da Era da IA, pois introduz uma forma inédita de muda no fluxo de informação das organizações. Assim como na manufatura do século XX, a solução não está em rejeitar a tecnologia, mas em disciplinar seu uso, criar governança e buscar aprendizado contínuo. O desafio das empresas será aplicar os princípios Lean à informação e à inteligência artificial, garantindo que cada output gerado realmente agregue valor ao cliente final e elimine ruídos no sistema.